quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Acompanhante.

Sobre estar presente.
Aqui no hospital fico observando as pessoas, seus comportamentos, manias ansiosas, as mãos inquietas, conversas paralelas, angústia, impaciência, também a paciência, as gentilezas e a falta desta, o cavalheirismo, a educação e também a falta da mesma...
Mas as companhias; os acompanhantes sempre me chamam a atenção.
Hoje foi uma filha que me despertou a vontade de escrever.
Adulta acompanhando seu pai idoso. O setor aqui é de oncologia. 
Ela se levantou e acreditando que o pai estava atrás falou com ele e ao olhar para trás riu e o chamou: Pai! 
Ele a acompanhou ao ser chamado e ela sorria amorosamente enquanto ele se aproximava.
Cumplicidade. 
Pai e filha. 
Momento tenso;
maaaas: ACOMPANHADO.
Eu me sinto uma espectadora da vida. 
Às vezes parece que não estou onde todos se encontram mas gosto de observar, ler as entrelinhas, ouvir os sons até mesmo dos calados. 
Pensando aqui.

Ah! E não, não me sinto abandonada e nem tampouco só. 
Eu não me apoio em pessoas, aprendi a depender de Deus, a tê-lo como acompanhante fiel e indispensável.
Verdadeiramente me sinto privilegiada.

terça-feira, 17 de outubro de 2023

O tempo

O tempo prova tudo e tudo se prova com o tempo. 
É o tempo que modifica, amadurece e aperfeiçoa pessoas e sentimentos.
É o tempo que define o que é verdadeiro, o que permanece e o que vale qualquer sacrifício.
O tempo não aprova pessoas fracas, nem apressados, também não aprova falsos amores, amores de conveniência, interesse ou de faz de conta. 
O tempo é o maior aliado do amor verdadeiro. 
Se acabou então não era amor. 
Dag

Enfim com o coração totalmente curado, sem dúvidas, sem restos, sem ninguém.
Agora me sinto plena e livre. 

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Saiba o seu valor

Saiba o seu valor.
A vida não é fácil pra quem não "tem" ninguém mas é muito mais difícil pra quem "tem" qualquer um.
A questão está em não combinar. Não adianta você querer fazer parte de alguém que não tem os mesmos objetivos e nem compartilha de ideias ou crenças como as suas. Essas diferenças são caminhos que levam a lugares diferentes ou que vão levar um dos dois à um destino não desejado. 
Eu aprendi a não pegar carona na vida de ninguém porque já fui deixada no meio do caminho assim como também já tive que retornar sozinha de um caminho que não escolhi, por mim mesma, trilhar.
E você pode ser muito carente de amor ou até de família mas nunca se esqueça que família sempre vai apoiar os seus mesmo em detrimento da justiça. 
Com o tempo a gente aprende a sobreviver, entende que merece muito mais do que um pedido de desculpas após um insulto, percebe que merece ser bem tratada porque tem valor e ponto. 
E não me venham com a história de que relacionamento é complicado, que não existe bom relacionamento... Me poupe disso, por favor.
É por causa desse tipo de pensamento que as pessoas se casam e descasam na mesma rapidez e com as mesmas desculpas esfarrapadas.
Fomos ensinados dessa forma.
Mas me diga (se você tiver filhos e for MÃE e PAI de verdade) é isso que vai ensinar aos seus filhos?
Que casamento é ruim, relacionamento é difícil, não existe bom relacionamento...?
Já vai ensinar que não há possibilidade de haver um bom relacionamento mesmo se escolher a pessoa adequada?
Porque se ensinar isso em vez de orientá-los a ter sabedoria vai ensina-los a aceitar qualquer situação ou a viverem sozinhos.

Eu tava aqui pensando de novo... 🤔
Dag Veloso

quarta-feira, 10 de março de 2021

Falando de dores

Há tempos não falo sobre o que vejo.
Especialmente o que vejo no hospital. 
Hoje é um daqueles dias difíceis que te faz desejar um bom banho e cama.
Mas estou aqui no meio de outros pacientes esperando ser chamada e com olhos cheios de lágrimas observando um casal. 
A mulher, talvez alguns anos mais vividos do que eu, tão magra que se vê as junções dos ossos, os cabelos ralos e pretos, pele branquinha, com olhinhos pequenos quase que cobertos por uma máscara hospitalar dura e impessoal.
Ele havia entrado primeiro e foi ao guichê perguntar algo pra em seguida buscá-la, quase que a carregando. Sentou-se de frente pra ela enquanto aguardavam sua vez.
Cuidadosamente a levou para a sala ao ser chamada e ela andava lentamente, como quando adoeci anos atrás. 
Não consegui suportar minha dor, minha tristeza e então chorei.
Mas não foi por ela ou por ele, foi por mim.
Porque eu só precisava entender o porquê fui abandonada em situação semelhante por quem deveria cuidar de mim como esse esposo faz.
Talvez isso pareça uma lamentação tola e sem sentido após tantos anos.
E os sentimentos são muito conflitantes dentro de mim porque eu entendo a fraqueza dele, consigo me colocar no lugar dele mas estando no meu lugar não consigo aceitar tamanho desamor, desrespeito e crueldade.
E enquanto observo me pergunto se eu seria capaz de abandonar da forma mais covarde (sem abandonar literalmente pra não enfrentar toda uma família e sociedade) alguém a quem prometi amar.
Eu tenho passado anos procurando meus defeitos e erros pra justificar e explicar o que me foi feito mas, com muita sinceridade, eu não encontro motivo que explique por mais erros que eu tenha cometido. 
Deus sabe que nem mesmo o mieloma me destruiu tanto quanto ele me destruiu. 
E eu tô cansada de me culpar, de justificar, de ponderar...
Eu tô cansada de conviver com deslealdade e traição, até mesmo familiar.
Eu tô cansada da lembrança dele e de quem me traz essa lembrança.
Cheguei no meu limite.
Não vou mais justificar e menos ainda carregar culpas que não são minhas.
Eu sei o que é amor e não é nada do que eu vivi até hoje e chega de ficar escondendo o que realmente sinto. 
Me destruíram, sim. E não há justificativa e nem explicação pra o que me foi feito. 
Dag

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Um pedacinho perdido

Onde ficou aquela menina cheia de sonhos e brincalhona, que ouvia ABBA em alto som com apenas 7 anos de idade?
Senti saudade de mim porque não sei onde estou.
É que meus caminhos me trouxeram pra longe de quem realmente sou e eu já não sei mais quem sou.
Não, essa não sou eu, essa definitivamente não sou eu.
Eu me perdi há muito tempo nos braços do tempo, nas mãos das más escolhas, minha vida deixou de ser minha quando perdi a inocência. 
Encontrei uma playlist do LP ''The Visitors'' de ABBA no Youtube e coloquei o fone de ouvido o som mais alto, fechei meus olhos e lá estava eu, com 8 anos ouvindo meu disco preferido em todo o mundo.
Cada música mexeu com um pedacinho do meu ser e então pude me reconhecer e eis que aqui estou.
Uma menina inocente, cheia de vida...
Eu tinha medo do desconhecido, medo de ficar sozinha, medo de ficar longe da minha família.
LONGE DA MINHA FAMÍLIA.... LONGE... LONGE... LONGE...
E então percebi que eu era apenas um pedacinho, como uma célula ou um órgão e tudo que eu era não fazia parte somente de mim. 
Os caminhos que escolhi me fizeram perder partes importantes que me faziam ser aquela menina e ela ficou partida em pedaços e não tem recuperação pois o tempo já desgastou os encaixes.
Eu sinto falta de mim como um pedacinho, sinto falta das outras peças, sinto falta de quem éramos. 
Hoje não tenho identidade, não sei onde me encaixo, não sei de onde venho nem pra onde vou, eu apenas estou aqui e nem mesmo sei o que estou fazendo ou o motivo de ainda estar aqui.


I LET THE MUSIC SPEAK 

Dag Veloso